5 de mai. de 2011

Encontro


Luz, clarão ofuscante
No vazio, rasga os céus
Violento, forte, triunfal
Risca irado, negro véu

Mas breve, momento
Quente, limpa, lágrima
Suave, chorosa, serôdia
Cai, corre, lava, alegra

Não há medo, tristeza
É só miragem, desnuda
Noite, raio, chuva
Mais luz, calor, ajuda

Gotas, molha, ardor
Calafrio, prazer, fusão
Sem dor, mais amor
Conforta, sacode, razão

Simples, exato, espera
Conhece, encontra, vê
Se só, calado, deseja
Vida, abraço, você

Não aqui, ainda sorri
Há fantasia, olhar
Pois, seja miragem
Vê, ao largo, chegar

25 de abr. de 2011

Só um Sol


Nublado... horas amargas
Ao relento, vento urra
Dor lancinante, dilacera minh’alma
Inverno rouco, noite nua

Galhos e folhas, negrume
Poeira, um pássaro voa
Arrasta, sofre, chia
Alto, feio, ecoa, ecoa

Imensidão voraz
Não, não é espaço
Nunca morre, sofre
Tormenta, jogado

Ao norte, morros, valados
Mira, destino, será?
Manca, lágrimas, solidão
Só um sol, só um sol há

Na umidade, mão
Socorro! Consolo
Oásis, ilusão?
Junto, tesouro

Talvez luz, talvez cruz
Chuva, limpa, lava
Após ardor, quente
Renova, inova, ama.

11 de abr. de 2011

Tão humano quanto bárbaro




Parece que tudo o que havia a ser dito a respeito do recente episódio de terror ocorrido no Rio já o foi. O fato é que ficamos assustados, perplexos com a capacidade humana de destruição. Um indivíduo entrar numa escola e ceifar a vida de diversas crianças é obviamente um absurdo inesperado, será?


A história nos retrata incontáveis episódios de violência e barbáries perpetrados pela sociedade. É claro, que podem ser justificados pela cultura da época e costumes locais. Mas isso não remove da espécie humana a latente capacidade de promover manifestações de violência e sua tremenda capacidade de destruição pelas mais diversas formas e meios.


O que dizer das torturas medievais? Quase sempre analisamos a história focada nos instrumentos de torturas, mas o que pensar dos carrascos, de sua frieza? E de nós mesmos, que admiramos mais a engenhosidade das ferramentas do que o sofrimento por elas infringido aos condenados. Aqui também abrigaria uma discussão ética, mas não é o caso. A verdade é que o homo sapiens é o ser mais cruel conhecido. Afinal, pode matar, subjugar, destruir sem causa aparente, simplesmente por um desejo oculto, ou nem tão oculto assim.


É conhecido que mulheres pagãs queimavam seus filhos recém nascidos nas incandescentes mãos metálicas de esculturas de bronze ou cobre recheadas de brasas acessas. Mais uma vez a cultura ou costumes tendem a justificar tais atos, mas não as acode da acusação aqui descrita. O holocausto e a guerra da China, entre outros episódios são exemplos de crueldade perpetrada por humanos que, como qualquer um de nós, têm problemas para lidar com o poder ou com instrumentos que remetem a ele.


Tudo isso demonstra que nossa perplexidade consiste não no fato em si, mas na proximidade deste. É bem mais fácil assimilarmos o problema no quintal alheio do que conviver com a barbárie dentro de casa. Isso só nos mostra o quanto somos frágeis e expostos a situações que muitas vezes são encorajadas por nossa total complacência com pequenos hábitos que em conjunto explodem em barbáries como as vistas não só no episódio específico do Realengo, mas em diversas outras situações que, de tão integrados ao nosso cotidiano, passam imperceptíveis.


E assim caminha a humanidade, cada vez mais longe da fé, da educação, do conhecimento e de qualquer outra forma válida de amenizar as manifestações de injustiça e crueldade.